Quem Somos

Nossa História

Muitas vezes me perguntei o que me levou a chegar à Bahia durante o carnaval de 1997, não muito longe de onde os portugueses pisaram em 1500, com a ideia de nunca mais voltar. Apaixonado pelo mundo, pela aventura e pelos meus irmãos humanos, viajei durante meses pelos recantos selvagens deste país de natureza abundante, pedindo todos os dias ao longo da estrada alojamento e alimentação, ou pendurando a minha rede entre duas árvores. Esta terra, agora eu sei, estava me chamando, e eu me entreguei a ela com confiança, como nos braços de uma mãe.

Alguns anos depois dessa viagem iniciática, decidi de uma vez por todas que “ganhar a vida” em uma cidade grande não era para mim. Me estabeleci em uma pequena vila de pescadores à beira-mar – no paraíso protegido de Picinguaba – mais perto dessa natureza amada. Lá, reformei um antigo prédio que se tornou um oásis de reconexão, logo atraindo pessoas de todo o mundo. Lá, aprendi até que ponto nossa civilização nos separou da doçura de nossa mãe Terra e, ao mesmo tempo, de nossa consciência do mundo e de nós mesmos.

Um dia de 2008, enquanto procurava na serra um pedaço de terra para plantar hortaliças, segui pela estradinha de terra da Catuçaba pela qual havia passado tantas vezes. O tráfego por esta estrada particular na época era feito a cavalo, dando um ar faroeste a este país remoto. Um passante havia mencionado a presença de uma velha casa um pouco mais adiante. Animado pela curiosidade – e apesar do crepúsculo que se aproximava, continuei até ao fim do caminho. Quando cheguei lá, senti imediatamente: “É isso”, disse a mim mesmo. O caseiro, um homem chamado Luis Pedro Pavret, me recebeu e me apresentou ao local como se me esperasse há anos. Naquele momento, senti profundamente que finalmente havia encontrado meu lugar na Terra.

Soube então que a principal casa colonial da Fazenda foi mandada construir pelo antepassado de Luís Pedro, um francês de Lyon – como eu – que viera ao Brasil em 1840. Seu bisneto, na época com 78 anos, homem de extraordinário vigor e grande construtor, dedicou sua vida a este lugar e sua manutenção com um carisma extraordinário e ainda, até Novembro de 2021, cuidou dele quando subitamente faleceu a tarde, depois de ter trabalhado na horta de manhã, do jeito que ele queria se despedir, uma vez com a sua missão cumprida. Nestes 13 anos que passamos juntos, nunca o vi sem seu sorriso lendário e franco. Consideramo-nos implicitamente parte da mesma família, pois partilhamos o mesmo trabalho e intenção.

Naquela época da minha vida, eu queria morar lá e receber pessoas que, como eu, eram fascinadas pela natureza e apaixonadas por uma certa concepção de interação humana – mas a experiência nem sempre foi fácil. No entanto, naquele dia em Catuçaba – a ideia de adquirir um imóvel sem saber se estava à venda, sem ter noção de sua área ou do enorme trabalho necessário para mantê-lo, não me impediu de tomar a decisão imediata. Também parecia o local ideal para criar uma família. Todas as necessidades financeiras se materializaram rapidamente, como se confirmassem esse destino irrevogável. Uma nova história estava começando.

Catuçaba e Picinguaba tornaram-se, portanto, lugares onde todos, muitas vezes sem saber, vêm buscar suas próprias respostas para alcançar o que está dentro. São lugares onde a Natureza, como uma mãe que se reencontra com seus filhos após longas andanças, traz à tona nosso verdadeiro eu, nossa verdadeira identidade e nosso propósito de vida, seja em nível consciente ou não. São lugares de cura abertos a todos, mas não a qualquer um, que precisa ser abordado com humildade, respeitando o tempo necessário para fazer sua mágica.

A ideia de sair da sociedade para repensar o mundo não é nova. Mas agora, mais do que nunca, é necessário sair de nossas vidas e observá-las em silêncio – longe do barulho e da complexidade das cidades. Apesar de nossas melhores intenções, nossas vidas urbanas parecem ter se tornado muito agitadas. Precisamos reservar um tempo adequado para questionar o que fazemos, descobrir quem somos e qual papel podemos desempenhar nas mudanças que estão acontecendo.

Arte de viver, arte de hospitalidade, arte de nutrir, arte de amar… Todo o enredo subjacente de nossa visão é sobre como estar no mundo. Esse modo particular de ser, de existir, está imbuído de uma beleza que chega à nossa alma, porque sua certeza nos conecta a uma verdade profunda que podemos sentir, embora não possamos defini-la.

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